domingo, 13 de dezembro de 2009

PERITONITE INFECCIOSA FELINA - PIF



A peritonite infecciosa felina (PIF) é a principal causa infecciosa de morte nos gatos. Ocorre quando o gato reage inadequadamente ao coronavírus. Muitos gatos são simplesmente infectados, emitem (shed) o FCoV durante um ou dois meses, montam uma resposta imunitária, eliminam o vírus e vivem felizes para sempre
O nome PIF é um pouco enganador: não se trata de uma inflamação do peritoneu (tecido interior que forra a cavidade abdominal), mas sim de uma vasculite(inflamação dos vasos sanguíneos). Os sintomas que o gato desenvolve dependem dos vasos sanguíneos danificados e também dos órgãos por eles alimentados.

PIF húmida ou efusiva
Esta é a forma mais grave da doença, em que  muitos vasos sanguíneos são gravemente danificados e há acúmulo de líquido no abdómen e no tórax. Quandos os vasos sanguíneos do abdómen são afectados, a barriga do gato incha devido à acumulação de líquido (ascite). Quando são afectados os vasos sanguíneos do tórax, dá-se uma acumulação de líquido no peito, que impede os pulmões de se expandir e dificultam a respiração do gato.


 É a forma mais crónica da doença. O gato normalmente tem sintomas vagos, tais como falta de apetite, perda de peso, pelagem com pouco brilho. Muitos gatos com PIF seca tornam-se ictéricos. Quando se olha para as pálpebras, estão amarelas. Se o nariz do gato é claro, também ele fica amarelo. Em muitos casos, aparecem marcas nos olhos, geralmente na íris (a parte colorida do olho, em torno da pupila) muda de cor e algumas partes podem ficar castanhas (ver fotos)
         


(Agradeço à Sra. M. por esta fotografia.)
Pode haver sangramento dentro do olho, ou aparecimento de depósitos brancos na córnea (a membrana transparente na superfície anterior do globo ocular).


Para os veterinários: façam um exame de visão com um oftalmoscópio para detectar clarões de luz no vítreo (vitreous flare) ou oclusão da veia central da retina (retinal vessel cuffing) (ver foto em baixo).

 
(Agradeço a John Mould por esta fotografia).
Cerca de 12% dos gatos com PIF não-efusiva desenvolvem sintomas neurológicos: ataxia (desequilíbrio, descoordenação motora), podendo ter também tremores de cabeça, convulsões, o olhar pode deslocar-se em direcções diferentes sem focarem um ponto definido.

No entanto, todos estes sintomas podem ser causados por outras doenças, por vezes com cura, e, por essa razão, é essencial efectuar um diagnóstico rigoroso.




Diagnósticos da PIF – esta secção destina-se a cirurgiões veterinários
A PIF é particularmente difícil de diagnosticar, já que outras doenças apresentam sintomas muito semelhantes. Só é possível obter um diagnóstico definitivo post mortem, ou ocasionalmente através de uma biópsia (porém, para que os resultados da biópsia sejam fiáveis, tem de haver uma inflamação piogranulomatosa visível, para a qual será necessário proceder a uma laparotomia). Apenas 18% das amostras enviadas para o nosso laboratório foram diagnosticadas como PIF. Visto que os gatos que se encontrem nestas condições são submetidos à eutanásia, torna-se absolutamente vital que a peritonite infecciosa felina seja diferenciada de outras doenças para as quais existe tratamento.


Qualquer dos sintomas que se seguem devem alertá-lo para a possibilidade de que o seu gato desenvolva PIF:
perda de peso
febres recorrentes (geralmente detectadas quando o veterinário verifica a temperatura do gato)
sem se alimentar devidamente
o gato torna-se mais preguiçoso
dilatação súbita do abdómen
observe regularmente os olhos, com particular atenção a alterações na cor da íris (a parte colorida do olho, em torno da pupila) ou any cloudiness ou sangramento (olhe atentamente para os olhos do gato na secção PIF seca ou não-efusiva para saber o que deve procurar),
dificuldades respiratórias (o gato respira pela boca);
se o gato tem ataques ou convulsões
se perde o equilíbrio, tornando-se descoordenado e por fim
se altera a sua personalidade

Os criadores de gatos devem estar atentos para os seguintes sinais:
crias de diferentes tamanhos numa ninhada
diarreia em crias com 5-7 semanas
se espirrar ou tiver os olhos a chorar

Lembre-se que todos os sintomas acima descritos podem ocorrer devido a outras doenças curáveis. Por isso, leve o seu gato ao veterinário para ser examinado e pense positivo. Cada oito em dez gatos, cujas amostras foram enviadas para o nosso laboratório para diagnóstico de PIF, acabaram por apresentar resultados negativos.

CRIANDO GATINHOS ORFÃOS



Achei um gatinho bebê, o que devo fazer?

Essa é uma pergunta que muitas vezes me fazem.



Infelizmente a crueldade em tirar da mãe filhotes muito pequenos, bebês incapazes de sobreviver sozinhos, é coisa comum de acontecer.  
 
Por incrível que pareça, alguns humanos acham “uma maldade castrar seus animais”, mas não vêem maldade em abandonar à própria sorte ou até mesmo sacrificar, filhotes que não desejam.


Por isso tantas pessoas encontram bebês gatos nas ruas.



Se isso acontecer, antes de tudo, não entre em pânico.

Se você dispõe de paciência, tempo, amor e determinação, você está apto a realizar esta trabalhosa tarefa. E acredite, a recompensa pelo trabalho no final é imensa.



É trabalhoso sim, mas o período mais difícil, trinta dias iniciais de vida, é bem curto. 


Passei por essa experiência antes de ser Veterinária. Por isso acho que conheço os dois lados do problema.  
 
Hoje existem produtos no mercado, como leite em pó para gatinhos e mamadeiras próprias, que facilitam bem a tarefa, coisa que na época não havia. Era na base do improviso.

 
 O amor, lealdade e companheirismo são inesquecíveis e continuam comigo eternamente. Por isso digo que vale a pena!
 
Se você encontrou um bebê gato, a primeira coisa a fazer é levá-lo a um veterinário assim que for possível. Ele irá examiná-lo, ver seu estado de saúde, calcular sua idade e orientar você a respeito dos cuidados, vacinas, etc.



Se notar que o gatinho está muito desidratado,  não responde a estímulos, debilitado por não se alimentar há muito tempo, você pode dar  Pedialyte sem sabor, que se compra em qualquer farmácia, ou passar glucose de milho (Karo) na sua gengiva para elevar o nível de açúcar no sangue. Com isso você ganhará um tempo precioso para conseguir chegar ao veterinário mais próximo.  


Se você já tiver outros gatos em casa, o gatinho deverá ficar de quarentena. Isso evitará que  ele passe, caso tenha, alguma doença para os gatos já existentes.


A separação também evitará acidentes, já que ele é pequeno e indefeso. Os mais velhos podem considerá-lo uma ameaça, um estranho que invadiu seu território. É necessário um tempo de exposição lento e gradual, sob supervisão, para que se acostumem uns aos outros. Mas não nessa fase do pequeno.

Providencie uma caixa de papelão forte. Se estiver em época de frio, forre com bastante jornal, toalhas velhas mas macias, cobertores velhos, etc. para deixá-lo aquecido. Isso é muito importante. O frio pode matar um filhote em pouco tempo. Se no lugar onde você mora faz muito frio, será necessário algum tipo de aquecimento, como uma bolsa de água quente colocada debaixo de toalhas. Mas por favor  CUIDADO, não é para assar os pequenos, mas sim aquecê-los. Cuidado com a temperatura. Calor em excesso também pode ser fatal.


A caixa dos gatinhos deve ficar em local protegido de correntes de ar, calmo e com pouco barulho. Você pode colocar uma tolha por cima da caixa, deixando, é claro, uma abertura para a passagem e renovação de ar. A tolha manterá a caixa aquecida e no escuro, ajudando os pequenos a dormir.


Se você tiver algum bichinho de pelúcia ou algodão, lavável, pode colocá-lo na caixa. Assim eles terão a sensação de estarem com a mãe e ficarão mais tranqüilos.

Procure num bom Pet Shop por leite em pó específico para gatos e mamadeira. Em caso de emergência, até conseguir comprar o necessário, você pode improvisar com conta-gotas ou mesmo pequenas mamadeiras para bebês (chucas) tomarem chá ou remédio. Use leite para bebês, como o Nanon ou mesmo leite de vaca, mas isso por muito pouco tempo, já que esses tipos de leite causam diarréia.  

Se onde você está não existe leite para gatinhos, você pode utilizar uma receita especial de suscedâneo:


Receita do Suscedâneo:
 
1 litro de leite Integral
2 gemas
2 colheres de sopa de creme de leite
1 colher sopa de açúcar
1 pitada de sal
 
Modo de Preparo: 
 
Bata as gemas, acrescente o leite e coloque a ferver.
Quando estiver fervendo, coloque os demais ingredientes. Deixe esfriar.
 
Dar a mamadeira a filhotes tão pequenos pode ser um grande desafio. Mas tenha calma e paciência. É tudo uma questão de tempo, prática e adequação para ambas as partes.
O importante é que o filhote se sinta estimulado a mamar. No início não vai ser fácil, já que ele não irá reconhecer naquela coisa de borracha as tetas de sua mãe. Mas a fome e o instinto de sobrevivência sempre falam mais alto. Para que ele não desista de sugar o bico da mamadeira, o tamanho do furo é muito importante. Se for muito pequeno ele se cansará logo e desistirá de mamar. Mas também não pode ser tão grande que ele se engasgue.



Se o gatinho se recusar a mamar, tente mudar a posição da mamadeira, do bico na boca, mude a posição do gatinho, até descobrir a forma que dá mais certo. 


Se depois de tudo, ele continuar a se recusar, procure a ajuda de um veterinário
.
Fique atento à quantidade que o gatinho mama e se perde peso. Eles devem mamar com intervalos regulares, que vão se espaçando a medida que crescem. Com 4 semanas, época do desmame, eles mamam apenas 2 vezes ao dia, já que comem papinha além da mamadeira.


Com 3 semanas você pode iniciar o processo de desmame. Geralmente não é difícil e os pequenos gostam de experimentar novos sabores. Acrescente ao leite, um pouco de sopa de bebê, batida no liquidificador. 


Essa sopa é feita com legumes variados, carne branca de frango, um cereal (arroz, aveia, ou outro), um pouquinho de sal. Deixar cozinhar bem e depois de frio bater no liquidificador até ficar homogêneo. Ofereça morna.


Com 4 semanas ofereça a sopinha num pires, em pouca quantidade. Eles vão se sujar, mas estão aprendendo a comer sozinhos, e isso é ótimo pra você!


Após a festa, limpe-os com pano úmido em água morna, seque-os bem para que não sintam frio.

Outro ponto importante é a higiene. Você certamente não irá gostar, mas terá que substituir a mãe nessa tarefa também. Quando muito pequenos, os gatinhos só evacuam e urinam quando estimulados pelas lambidas da mãe, quando esta os lava após as mamadas. Calma, você não precisa lambê-los! Um algodão embebido em um pouquinho de água filtrada  morna já faz o serviço. Aproveite para limpá-los de resíduos de leite, fezes e urina, para que o local onde dormem e passam todo o tempo esteja sempre limpinho. Troque regularmente toalhas, jornais, etc.


Até abrirem os olhos, por volta de 10 dias, os gatinhos costumam produzir muito pouca fezes. Mas se não fizerem nada por mais do que dois dias, procure a ajuda do veterinário.


Com 3 semanas de idade, você pode fazer aos pequenos a primeira apresentação a uma caixa sanitária. Utilize uma caixa baixa e pequena, coloque um pouco de granulado sanitário e deixe que explorem a caixa. Se puder coloque um pouquinho das  “necessidades” na caixa, isso irá ajudar na aprendizagem. O instinto de enterrar na areia é natural e não precisa ser ensinado.


O período de 2 a 7 semanas é muito importante para a socialização. O contato positivo com humanos diferentes nessa fase, fará com que o gato cresça amistoso.


DESMAME DOS FILHOTES



 Os gatos nascem com os olhos fechados, estes vão abrir ao fim da primeira semana de vida. Nesta altura, os gatos ainda não vêem bem. A sua visão melhorará gradualmente e estará perfeitamente estabelecida uns dias depois.

Os gatos recém nascidos são exclusivamente amamentados pela mãe até cerca das quatro, cinco semanas de vida. Nesta altura, começam a mostrar interesse por outros alimentos, cujo cheiro começa a despertar a sua atenção.


Assim que nascem, os filhotes já são capazes de encontrar as tetas da mãe e iniciam a amamentação. Nas primeiras horas de vida, o filhote ingere e é capaz de absorver o colostro, um leite rico em anticorpos que são transferidos da mãe para a cria. É importante que os filhotes sejam amamentados pela mãe nas primeiras horas de vida. Nos próximos 25 a 30 dias, o filhotinho se alimentará exclusivamente do leite materno, a menos que a mãe não tenha leite suficiente para a ninhada.

Podemos desconfiar de falta de leite materno quando os filhotes choram com frequência. Nesse caso, a amamentação com leite substituto é indicada. Existem leites substitutos industrializados para cães e gatos. Na falta dele, o veterinário poderá indicar uma receita caseira que será dada a cada três horas com mamadeira. 


A partir de 30 dias, devemos começar o desmame, ou seja, introduzir algum tipo de aliementação para que o filhote deixe de mamar na mãe. Nessa idade, os filhotes já estão andando e os dentinhos já estão começando a nascer. A mãe sente desconforto ao amamentar os filhotes e, naturalmente, passa a ficar mais distante deles.

O desmame pode ser feito introduzindo-se uma papinha de desmame industrializada ou mesmo uma ração para filhotes amolecida com leite morno, 1 vez ao dia. No início, os filhotes entrarão no prato de comida e farão uma bagunça. Para ajudá-los a compreender que "aquilo" não é para se lambuzar e sim para comer, molhe o dedo na papa e deixe que o filhote cheire e lamba. Inicialmente ele pode rejeitar completamente, mas aos poucos irá se acostumar com o novo sabor. Aumente a frequência da papinha para duas, três e depois 4 vezes ao dia, até que a ninhada complete 45 dias de vida. Nos intervalos entre as papinhas, os filhotes deverão mamar na mãe, com uma frequência cada vez menor. 

Quanto a cadela ou gata estiverem amamentando e na fase de desmame, JAMAIS retire todos os filhotes de uma vez. Não tendo a cria para mamar, o leite acumulado "empedrará" causando inflamação, febre, perda de apetite e muita dor (mastite ou mamite).

Na fase de desmame, quando os filhotes já estiverem com 40 dias, e se alimentando com a papinha, podemos ajudar a secar o leite da fêmea diminuindo a comida e a água por 3 a 4 dias. Isso só deve ser feito sob a supervisão de um veterinário. Da mesma forma, medicamentos para secar o leite só devem ser administrados se o veterinário achar necessário. 


Aos 45 dias de idade, nunca antes dos 40 dias, os filhotes podem ser afastados da mãe. Mas lembre-se, nunca retire todos os filhotes de uma vez. Faça-o ao longo de 3 ou 4 dias para que a fêmea não fique desesperada procurando a cria ou corra o risco de desenvolver uma mastite.

O desmame condiciona o futuro do filhote.

De um bom desmame dependem a saúde do gatinho e seu desenvolvimento até a vida adulta.

Durante este período, o filhote passa pela transição do alimento líquido para o sólido, sendo o alimento intermediário o semi-sólido (papinha desmame ou ração para gatos filhotes umedecida com água quente ou leite para gatinhos).

A função da papinha desmame ou do alimento umedecido nesta fase da vida é a de fazer uma transição suave da alimentação líquida (leite materno) para a alimentação sólida (ração seca para gatos filhotes) sem prejudicar nutricionalmente o gatinho.

As necessidades energéticas dos filhotes são 2 a 3 vezes superiores às de um gato adulto em manutenção pois os filhotes possuem uma capacidade estomacal reduzida. Um alimento concentrado, portanto altamente energético é particularmente indicado.

No início do crescimento os filhotes digerem mal o amido devido a baixa atividade das enzimas digestivas, desta forma se um alimento para gatos adultos (rico em amido) for utilizado para um filhote poderá ocorrer diarréia.

Além da grande exigência em proteínas, os gatos necessitam receber um acréscimo do aminoácido taurina. Uma carência prolongada em taurina favorece o aparecimento de cegueira e problemas cardíacos.

Os produtos para gatos não podem ser carentes em proteína pois podem causar perda da massa muscular e queda de resistência do animal.

Contudo a carência em ácidos-graxos pode ocasionar problemas de crescimento e reprodução.

Assim sendo, os alimentos para gatos devem ser balanceados para cada fase de vida.

Algumas semanas após o desmame, a maioria dos gatos perdem a capacidade de digerir a lactose (açúcar do leite), e o leite (mesmo sendo o de felinos) não é apropriado após o desmame pois transforma a consistência das fezes dos gatos deixando-as amolecidas ou até mesmo diarréicas.


Transição do leite para o alimento seco:

A transição do leite para um alimento seco se faz de maneira progressiva através da papinha desmame ou da mistura de alimento seco para gatinhos com um volume idêntico de água ou de leite para gatos na temperatura de 60·C. Deixar esta mistura esfriar até obtenção de uma refeição à temperatura ambiente e servir a papinha dentro de no máximo 1 hora após o preparo.

Durante as semanas seguintes, a reidratação dos croquetes (no caso da utilização de alimento para gatinhos umedecido) é progressivamente reduzida até a administração de uma refeição seca na idade de 8-9 semanas.

Deve-se dividir a quantidade diária recomendada de papinha ou de croquetes umedecidos em 3-4 refeições ao longo do dia até o fim do desmame e depois 2 refeições ao dia (alimento seco para gatos filhotes).

A papinha desmame ou o alimento para gatinhos utilizados neste período devem possuir uma alta digestibilidade, matérias-primas de alta qualidade, principalmente proteínas e gorduras de origem animal para assegurar uma boa nutrição aos filhotes nesta fase de transição alimentar.


PERDA...


Sábado não foi um dia muito bom, quando retornei do trabalho, encontrei um dos filhotes morto, era o menorzinho, desnutrido, achei que ia dar a volta mas infelizmente não conseguiu estava fraco e não se alimentava sozinho, de tamanho era a metade do irmão, seguido o alimentava com um conta- gotas, nem se aquecendo no irmãozinho ele sobreviveu. O maiorzinho, e da cor amarela, que minha filha deu o nome de Garfield esta saudável, comilão e gordinho, parece um brinquedo quando corre, quem vê se apaixona.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

TRANSFUSÃO DE SANGUE EM ANIMAIS



 A transfusão sangüínea, também chamada de hemoterapia, constitui-se no ato de transferir sangue de um doador a um receptor que esteja extremamente anêmico e sujeito a risco de vida imediato, independente da causa.

INDICAÇÕES DA TRANSFUSÃO

1- A transfusão é indicada quando ocorre baixa da concentração celular sangüínea acompanhada com sintomas clínicos de anemia ( mucosas pálidas, taquicardia, sopro cardíaco funcional: sopro anêmico e taquipnéia). Como parâmetros de hemoglobina e de hematócrito que exigem transfusão, podemos considerar os seguintes limites mínimos: 

NO CÃO: HEMOGLOBINA................................ 5g/100ml
HEMATÓCRITO................................. 15 % 


NO GATO: HEMOGLOBINA................................ 4g/100ml
HEMATÓCRITO................................. 12% 


2 - Durante as cirurgias prolongadas e traumatizantes com grande perda de sangue.
3 - Nos estados de hipoproteinemias resultantes de prolongada inanição, de enfermidades parasitárias severas, de infecções, de queimaduras e de intoxicações.
4- Como terapia inespecífica estimulante, com a finalidade de restabelecer o sistema imunológico dos animais e nos casos de convalescença prolongada decorrente de tratamentos cirúrgicos. 

CONTRA-INDICAÇÕES

A maior contra-indicação a ser considerada é a que diz respeito à incompatibilidade do sangue transfundido com o do receptor. No entanto, em pacientes com hemorragia aguda e sob risco de vida, o sangue deve ser aplicado como recurso de emergência, sem maiores cuidados.
Nos casos de cães com doenças auto-imunes (anemia hemolítica auto-imune), apesar de não ocorrer incompatibilidade, mas apenas maior destruição de eritrócitos do sangue transfundido, não há inconvêniecia da transfusão, desde que se tomem cuidados adequados para esta situação.
Nos animais, por não existir anticorpos contra as hemáceas que foram transfundidas, na primeira transfusão não será necessário fazer o teste de compatibilidade, mas a partir da segunda, já poderá ocorrer algum tipo de reação como urticária no caso dos cães e parada respiratória no caso dos felinos.
 Toda transfusão de sangue ou de seus componentes tem caráter semelhante ao de um transplante. É, geralmente, um procedimento de urgência, e não deve ser encarado como um tratamento, mas apenas como medida de suporte, a fim de manter a sobrevida até que seja possível o diagnóstico, tratamento e recuperação. Por isso, não se deixe enganar pela impressão de pronta recuperação que o animal poderá apresentar logo após a transfusão. 
Este estado poderá ser provisório se a causa do problema e suas consequências não foram eliminadas. Após uma tranfusão, deve-se aumentar os cuidados e a observação pois, como um transplante, podem ocorrer reações e "rejeições".
A maior parte dos casos que exigem transfusões são sérios, de surgimento repentino e inesperado, e apenas o clínico, à luz dos dados clínicos e laboratoriais, poderá tomar a decisão por esta escolha, já que existem riscos graves associados. A maioria dos casos de transfusão está associada a anemia crítica ou perdas sanguíneas por problemas hepáticos ou renais, infecções por parasitas do sangue (babesiose, ehrlichiose, haemobartonelose), intestinais (verminoses ou protozooses) ou mesmo parasitas externos (pulgas e carrapatos), deficiências alimentares, acidentes, intoxicações e até grandes cirurgias.
Os cães e gatos podem doar e receber sangue de seus semelhantes, respectivamente, e, assim como o homem, também tem diferentes tipos e grupos sanguíneos. No Brasil, a tipagem destas espécies ainda não está disponível e, por enquanto, realizamos alguns testes "cruzando" o sangue do doador e do receptor para prever possíveis reações. Será colhido então, imediatamente antes da transfusão, com objetivo de realizar provas de compatibilidade, pequena mostra de sangue do animal que irá receber o sangue, que também será usada como parâmetro para avaliação dos resultados desta intervenção. Essas provas não substituem a tipagem, nem conseguem ser absolutamente seguras. Mesmo assim, elas podem prever e evitar possíveis e graves reações.
O início da transfusão é bem lento, a não ser em urgências e grandes perdas, para que se possa observar qualquer sinal de reação. Após os primeiros 30 minutos, a velocidade vai aumentando até atingir uma média que permita um tempo total de até 4 horas.
Para acompanhar o estado geral, sinais de reação e convalescença, periodicamente são avaliados diversos parâmentros como temperatura, frequência cardíaca e respiratória, etc. A presença do proprietário é fundamental para assegurar mais tranquilidade ao animal. 



TRANSFUSÃO DE SANGUE EM GATOS
 
O método é bastante semelhante ao empregado em cães. Usa-se o sangue heparinizado, retirado por punção cardíaca ou da jugular de um doador sadio. Este deve ser de bom tamanho, acima de 4Kg, podendo doar de 100 a 170 ml. A via de transfusão nos adultos é a jugular e a cefálica; nos filhotes (gatinhos), utiliza-se a fossa tracantérica (intra femural).
No caso do sangue felino, poderá ficar estocado por até 30 dias sob refrigeração em geladeira comum.
De modo geral, 20 a 60 ml de sangue são utilizados em cada transfusão normalmente, os gatos vomitam após a transfusão e, naqueles extremamentes anêmicos, a morte pode ocorrer durante a mesma, sendo desconhecida a causa.
 Alimentação deve ser evitada antes e depois da transfusão. Serão coletadas outras amostras de sangue após 1, 24 e 72 horas após a transfusão, para acompanhamento da sobrevivência (viabilidade) das células transfundidas. Isto para se estar atento a uma possível rejeição. Após a primeira transfusão, aumentam muito as chances de ocorrerem reações. Mesmo que não aconteçam durante ou logo após a transfusão, que geralmente são as mais graves, reações de diferentes tipos podem se manifestar tardiamente até 3 semanas. As transfusões subsequentes, se necessárias, devem ser realizadas, preferencialmente, em até 5 dias da primeira para minimizar o risco de sensibilização e reação a esta.
 

DOADOR

O animal deve ter idade superior a um ano, com peso igual ou superior a 25 Kg, deve ter temperamento dócil para facilitar a coleta. Deve ser também, clinicamente sadio, com boa condição física, livre de doenças infecciosas e estar com a vacinação em dia.
Normalmente, utiliza-se o doador negativo para os antígenos CEA-1 e CEA-2 (canine erythrocytes antigens), pois cães, submetidos a transfusões previamente sensibilizados com estes antígenos, reagem com uma hemólise severa.

COLETA

Caso haja necessidade, o doador deve ser tranqüilizado com cloridrato de clorpromazina na dose de 3 a 5 mg/Kg e ao total da dose deverá ser adicionado atropina na dose de 0,4 mg/Kg. O tranqüilizante deve ser injetado por via endovenosa, pela veia cefálica. Passados 15 minutos, o animal estará pronto para a coleta.



REGIÕES PARA A COLETA

O sangue deve ser obtido da veia jugular, com punção do vaso com agulha grossa ou catéter. Uma outra técnica utilizada é a punção cardíaca, com agulha grossa, fazendo a punção no ventrículo direito ou esquerdo com o animal anestesiado, porém, essa via é a menos recomendada.

QUANTIDADE DE SANGUE A SER COLETADA

A quantidade de sangue que deverá ser retirada, de um modo geral, é de 20 ml/Kg, sendo que a coleta poderá ser repetida a cada 2 semanas.

ARMAZENAMENTO

O sangue retirado deverá ser armazenado em recipientes de plástico ou vidro contendo uma solução de anticoagulante. A quantidade de anticoagulante dependerá da quantidade de sangue retirado, mas podemos dizer que a quantidade a ser utilizada deverá obedecer a proporção de 4 ml de sangue para 1 ml de anticoagulante, ou seja, se for retirado do animal 250 ml de sangue, o recipiente deverá conter 62,5 ml de anticoagulante.
Os anticoagulantes mais utilizados são o ACD (ácido cítrico, citrato de sódio e dextrose) e o CPD (citrato de sódio, fosfato e dextrose). A dextrose contida nestes anticoagulantes serve de nutriente e meio de sobrevivência para os eritrócitos.
O recipiente contendo o sangue deve ser identificado, datado e armazenado sob uma temperatura de 5ºC, em geladeira comum. Desta forma poderá ficar estocado por até 21 dias.

MODALIDADES DA TRANSFUSÃO 

Duas alternativas decorrem do uso do sangue: volume total ou somente volume de eritrócitos.
Para se fazer a transfusão do volume total de sangue, indicado na maioria dos casos, devemos misturar suavemente o conteúdo do frasco para que plasma e glóbulos sejam homogeneizados, pois que os elementos figurados do sangue mantido em geladeira sedimentam, separando-se do plasma nos casos de anemia crônica, quando apenas os eritrócitos são requeridos , o plasma deve ser retirado do frasco antes do início da transfusão. eventualmente pode-se armazenar o frasco de boca para baixo, de modo que os eritrócitos sedimentados sejam os primeiros a serem esgotados, evitando-se assim os inconvenientes de outros processos que poderiam acarretar contaminação nas manobras de separação do plasma.
Para as transfusões, o sangue não necessita de aquecimento; contudo, para pacientes com hipotermia, convém aquecê-lo previamente. isto poderá ser conseguido mergulhando-se o frasco ou mantendo-se o equipo em água morna.

VIAS DE TRANSFUSÃO 

Dependendo do porte e da idade do animal, três vias distintas podem ser utilizadas para transfusão: a endovenosa, a intraperitoneal e a intrafemural.

A - VIA ENDOVENOSA
A via endovenosa é a mais usada, devendo ser preferida pelos bons resultados que oferece. apresenta maior facilidade na contenção do animal preso à mesa e, na maioria das vezes, não há necessidade de se manter auxiliares ao seu lado, por ocasião da transfusão. no entanto, é aconselhável a colaboração do proprietário junto ao paciente, pois que, geralmente, a sua presença transmite mais tranquilidade ao animal.
As safenas, as cefálicas e as jugulares são as vias comumente usadas nas transfusões.

B- VIA INTRAPERITONEAL
Os resultados das transfusões feitas por esta via tem sido contestados por alguns autores. no entanto, outros a recomendam apenas nos casos em que o paciente é portador de anemia crônica. em nossa prática, não temos obtido bons resultados com esta via.

C- VIA INTRAFEMURAL
É indicada principalmente em cães jovens (filhotes), pela facilidade em se conseguir a perfuração do osso femural e o sangue ser absorvido em 75%, passando rapidamente para a circulação. 



DOSAGEM DO SANGUE NAS TRANSFUSÕES 

Na prática, as dosagens de sangue tem sido feitas de modo arbitrário, estabelecendo-se um critério de transfusão entre 10 a 20 ml de sangue por Kg de peso. Alguns autores recomendam dosar previamente a hemoglobina do paciente r, partindo-se do princípio de que existem 7 gramas de hemoglobina em cada 100 ml de sangue doado, pode-se calcular a quantidade necessária a ser transfundida. No entanto, o sistema arbitrário, por ser mais simples, tem sido mais usado, demonstrando resultados satisfatórios.
O gotejamento do sangue deve ser iniciado lentamente (30 gotas por minuto), até completar uma hora. Se, durante este período, o paciente não apresentar reações secundárias (urticária), o gotejamento pode ser aumentado para 80 gotas por minuto ou mais. Nas hemorragias agudas, em casos extremos, a fim de salvar a vida dos pacientes, deve ser injetada a maior quantidade possível de sangue, iniciando-se com 80 gotas por minuto ou mais.
A manifestação de reações secundárias é fator determinante para a suspensão da transfusão. a quantidade de sangue transfundida deve ser o suficiente para elevar o hematócrito a um nível de 30%, porém, na maioria das vezes, hematócritos pouco acima de 20% já são suficientes. não se deve eleva-lo a níveis normais ou muito próximos destes, sob risco de supressão do estímulo eritropoiético.



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

EUTANÁSIA



Eutanásia animal 

Originalmente do grego eu-thanasia:"morte feliz", ganha cada vez mais espaço nos meios acadêmicos veterinários de países desenvolvidos. Conforme estudos elaborados nos Estados Unidos, eutanásia representa 3% da clínica veterinária.
No Brasil, o tema é discutido com pouca ênfase nas universidades e nos diversos setores da classe médica veterinária. As questões humanas que envolvem o assunto são complexas e estão além do ponto de vista ético-profissional, principalmente por ser esta profissão a única com o direito de execução de um paciente, acatando, na maioria dos casos, ordens de pessoas hierarquicamente superiores.
No que diz respeito aos aspectos relacionados a manutenção da saúde, a medicina veterinária está sujeita a 2 paradigmas: os cuidados com animais de produção e os de estimação. No primeiro a ética veterinária prevalece, e o animal não é individualizado. Como a morte do animal neste caso é inevitável, não representa a eutanásia propriamente dita, mas sim o abate.
No segundo caso, a criação do bicho está inserida na relação homem-animal de estimação, onde a morte não é superada. aí, a manutenção da vida, dentro da estrutura da medicina veterinária, é o objetivo básico para manter os lados afetivos-emotivos entre "dono" e "paciente" (animal).
A eutanásia ganha então outra visão. A partir do momento em que a morte começa a rondar e torna-se uma realidade inexorável, é que se exteriorizam todas as dimensões da profundidade desta relação. Qual deve ser então o posicionamento do veterinário, no momento que as condições psicológicas do dono são fragilizadas? como e o que fazer diante de um caso "terminal"?
Quais os critérios de uma decisão que poderá levar à eutanásia e os procedimentos a serem tomados? Todas essas perguntas - e outras que naturalmente surgem - não estão em nenhum manual de primeiros socorros e um pouco distantes do código de ética profissional. A formação humana é que posicionará o veterinário, conforme sua sensibilidade.
A Dra. Hannelore Fuchs, psicóloga, médica veterinária e uma das poucas pessoas que tem se aprofundado no estudo da relação homem-animal, faz algumas considerações sobre o assunto, mas de início já avisa:" a decisão final sempre deve ser do dono".
Contudo, a pessoa poderá estar de tal forma afetada, mesmo após ser ouvida e introgetada a avaliação do médico veterinário quanto às condições de saúde animal - e a possibilidade de salvá-lo -, ainda que sejam necessárias sacrifícios pessoais, envolvendo todo um processo de enfermagem, por exemplo.
Tudo isso, também é comum nos casos que as pessoas exigem os mesmos cuidados para o seu "cãozinho", que os dados a qualquer ser humano. Aí começam a ser trabalhados outros aspectos.
Fator econômico pode pesar muito no momento pela eutanásia, aliada a outros fatores de ordem prática, como capacidade de tratamento animal, que requer tempo, dedicação e habilidade de enfermagem por parte do dono.


E o sofrimento de perda, com quem fica?


Geralmente a dor fica com as pessoas que mais conviveram e amaram o animal. Pode ocorrer que a pessoa que toma para si a responsabilidade de eutanásia, tenha um grau menor de afetividade. Como o "chefe" da família, por exemplo, nem sempre terá a mesma relação com o cãozinho que os demais familiares.
Além de ser analisada as condições sentimentais que cercam o bicho, também deve ser avaliado o sofrimento do bicho, para que, a partir disso, o médico veterinário venha ter uma postura que o leve a iniciar "um ritual" de preparação com o dono, conscientizando-o da morte eminente.
A psicóloga e veterinária adverte que todo o processo de eutanásia, deve ser explicada ao proprietário. "Deve-se mostrar os mecanismos da eutanásia e as conseqüências psicológicas. assim, após a morte, ficará mais fácil todo esse processo de luto, evitando-se que a raiva e culpa sejam jogadas em cima da figura do veterinário, o que será desgastantes".


Responsabilidade


Diferente da responsabilidade da cura, a da morte pode ser mais séria, sobretudo, se não respeitada a vontade do cliente. Apesar de não existir nenhuma lei para determinar os parâmetros da chamada "morte feliz", são condenáveis, e passíveis de punição, a eutanásia ativa, aquela que a ação direta provoca a morte do paciente (animal), quando não autorizado pelo cliente (dono).
É de se questionar se a execução de milhares de animais em canis é um ato ativo ou passivo. o número de animais soltos nas grandes cidades cresce a cada dia e, consequentemente, o "sacrifício" também é cada vez maior. e realmente é impressionante.
Dr. Albert Lang
Clínica de Pequenos Animais - Joenville -SC
Alguns proprietários de cães, gatos e outros animais de estimação, já tiveram a dolorosa experiência de ter que optar pelo sacrifício de seus companheiros. Além de sofrida, é uma decisão bastante difícil, pois o vínculo entre o homem e o animal é muito forte para ser quebrado subitamente e, o que é pior, por uma escolha do dono. O profissional veterinário tem o dever de orientar quanto ao curso da doença.
Quando o prognóstico é desfavorável, ou seja, as chances de cura são mínimas ou inexistentes, ele pode sugerir o sacrifício. No entanto, a decisão final é sempre do proprietário e este é o grande dilema... Devo sacrificar meu animal ou não?
A decisão deve, na medida do possível, deixar de lado a "paixão" para que possamos enxergar e analisar a qualidade de vida que o animal terá. Mesmo assim, essa é uma análise bastante subjetiva. Quando um cão perde completamente a mobilidade das patas traseiras, muitos donos crêem que viver se arrastando ou atrelado a um "carrinho de rodas", não seja uma vida feliz para um animal. Outros consideram um crime o sacrifício e se dispõem a cuidar do cão, movendo-o sempre que preciso, levando-o para defecar e urinar, ou providenciando um "carrinho de rodas". São visões diferentes e temos que respeitar a opção de cada proprietário.
Devemos tomar cuidado, entretanto, para que o amor pelo animal não se transforme numa obsessão. E a obsessão leve o dono a ser cruel, sem perceber, mantendo o animal ao seu lado mesmo que isso custe a dor e sofrimento do cão...
Se um dia você se encontrar numa situação em que tenha que decidir pela vida do seu animal, converse com o veterinário e se informe sobre todas as possibilidades de tratamento, tempo de sobrevida e, principalmente, a qualidade de vida que o cão terá. Se ainda estiver em dúvida, consulte um outro profissional, até se sentir seguro da sua decisão. Devemos lutar até o fim pela vida, dar todas as chances a ela. Porém, quando isso não for possível, aliviar o sofrimento também é uma forma sublime de amor pelo animal.
Por lei, o sacrifício ou eutanásia não deve causar qualquer dor ou agonia no animal. Ele é anestesiado e, posteriormente, são aplicados medicamentos que provoquem parada cardíaca e/ou respiratória. O cão morre "dormindo"... Realizada por um bom profissional, dentro da ética, não há sofrimento para o animal. Inevitável é o sofrimento do dono, mas esse sentimento logo se transformará num grande alívio por ter livrado seu amigão da dor.





Estudo de Caso




Um problema que é também de utilidade pública, na medida em que a prática da eutanásia existe não apenas em função de doenças, mas também pelo excesso de cães e gatos sem lar. No passado, matavam-se os cães das formas mais cruéis - da câmara de gás ao eletrochoque. O procedimento hoje é padronizado no Estado de São Paulo, para não causar sofrimento ao animal. Antes de tudo, o cachorro é sedado. Depois, recebe uma overdose de anestesia injetável, o que provoca uma parada cardíaca e respiratória.


Para a alegria dos amantes de animais, esse assunto virou lei estadual em abril deste ano, proibindo a eutanásia pelos órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais congêneres. De acordo com a lei, só poderão ser sacrificados cães prestes a morrer, sem chances de cura, se houver a concordância de dois veterinários - um do CCZ e o outro de alguma entidade de defesa dos animais. Os cães saudáveis, mesmo os que não são adotados, não podem ser sacrificados.


Anteriormente à lei estadual, cada cidade tinha as suas regras. Agora, os municípios do Estado de São Paulo estão sendo incentivados a instituir políticas públicas corretas para os animais, como castração, identificação e conscientização da população. É o caso de Itu e região, que regularmente promove Feiras de Adoção e Posse Responsável.


Canis abarrotados: um sério problema


A nova lei estadual protege o sacrifício desnecessário, o que é de fato uma grande conquista. No entanto, o problema de superpopulação de cães aumenta. O problema que se coloca é que os CCZ normalmente não conseguem dar conta da enorme quantidade de animais sem lar. Um claro problema de saúde pública que afeta os bichanos, as pessoas e todas as cidades.


O Centro de Controle de Zoonoses de Itu recolhe e/ou recebe cerca de 100 animais por mês. A afirmação é do veterinário Sergio Castanheira, que tem dedicado a sua profissão para cuidar de animais carentes. Durante mais de três anos como coordenador no CCZ de Itu, Sérgio desenvolveu vários programas, como o controle de natalidade através de cirurgia de castração, programa de atendimento para donos de baixa renda, Posse Responsável e o programa de Cão de Comunidade. Castanheira afastou-se recentemente para candidatar-se a vereador, pois acredita que pelo caminho político é mais fácil alcançar o propósito de ajudar e proteger os animais.


“Em cada Zoonoses, a decisão de encaminhamento depende do responsável pelo departamento. Hoje existe a Lei Estadual sancionada pelo José Serra, que proíbe todo CCZ de sacrificar animais sadios. Mas isso eu já adotava desde que assumi o CCZ, independente da lei”, conta Sérgio. “As fotos que eu enviei são de animais que em outro CCZ seriam sacrificados. Mas nós operamos para dar-lhes chance de vida e eles sobreviveram!”, declara.


Em Itu, dos 100 novos animais que chegam ao CCZ a cada mês, cerca de 60 são doados com muito esforço. “Mas quando não são doados eles vão ficando, causando superpopulação. Isso é muito ruim, pois podem adoecer, ficar estressados, etc. É muito importante a população ajudar, levando sua cadela ou gata para castrar e tendo a posse responsável”, alerta Castanheira.


Há também em Itu uma Associação de Socorro e Proteção aos Animais, criada por puro idealismo e amor aos animais. A fundadora, Thereza Gollitsch Daunt, cuida atualmente de 190 cães, que são recolhidos nas ruas e levados para cuidados especiais em sua chácara. Embora existam ajudas individuais de pessoas que se mobilizam com a causa, e a prefeitura também auxilie com ajuda financeira (que cobre boa parte dos custos com ração), muito ainda é custeado pela proprietária. “Eu tenho um veterinário contratado que me auxilia em tudo (curativos, controle de vermífogos, etc). Os remédios eu também compro, apesar de receber amostras de alguns médicos, mas não são suficientes”, conta Thereza. Saiba mais sobre esta Associação.


Conscientização, castração e controle


“O mais importante é educar as pessoas para que adotem animais de rua, mas não desistam depois, pois infelizmente isso acontece com freqüência em Itu. Existe um projeto em andamento, que “chipa” os cães, assim eles podem ser acompanhados após a adoção, o que ajudaria muito o controle do CCZ”, explica Alexandre Zanetti, que trabalha com obediência e Agility para cães e apóia muitos programas do Zoonoses de Itu.


A médica veterinária Zaida Hellmeister também aposta no trabalho social de conscientização e sugere cadastramento dos animais da população da periferia, que não tem condição de pagar cirurgia de castração e tratamentos. “A castração é uma opção muito importante para diminuir o nascimento de novos filhotes que podem vir a sofrer pelo aumento de cães sem lar”, afirma. Zaida também orienta que hoje é possível chipar o animal por um custo de R$ 10,00 e que o procedimento não tem contra-indicações.


Doenças incuráveis?


Há casos, entretanto, em que o sacrifício aos animais ainda é permitido, quando o diagnóstico é de doenças graves ou infecto-contagiosas incuráveis. Mas a questão que se coloca é: até que ponto se sabe quando uma doença é realmente incurável?


A ituana Lucieny Poliszezuk tem um exemplo de amor para contar. Há pouco mais de um ano, sua cachorrinha Luna teve cinomose e foi desenganada por quatro veterinários da cidade. A orientação era clara: sacrificar o bichano. Com coragem determinação e principalmente amor, Lucieny fez de tudo, desde acupuntura veterinária até medicação por conta própria. O resultado é que hoje, apesar de algumas seqüelas, Luna está feliz e saudável. Leia a sua história!


“Em minha opinião, a eutanásia só deve ser feita se não existir nenhuma chance de vida do animal e se for para aliviar o sofrimento de animais com doenças em fase terminal ou acidente, sem chance de recuperação. Todo veterinário tem o dever de salvar vidas e não de acabar com elas”, afirma Castanheira.


Outras histórias se somam à da cadelinha Luna. É o caso da Border Collie Mexerica, que mesmo depois de ter sofrido cinomose, é campeã internacional de vários campeonatos de Agility, conforme contou Zanetti, que atua na área.


“A cinomose é realmente uma doença muito agressiva, que pode afetar o sistema nervoso central e deixar muitas seqüelas, como cegueira ou dificuldades de locomoção. Por isso a prevenção através de vacinas é tão importante”, explica a veterinária Zaida.


Mesmo assim, há casos de sucesso. Portanto, se você ouvir que a doença do seu cão é um caso perdido e a única opção é sacrificá-lo, pense muito bem, principalmente se ele for jovem e se não tiver uma doença terminal. Pelo menos, é o que mostram estes exemplos!


Sites pesquisados: apais.org; vidadecao.com.br; abrigodosbichos.com.br; protetoresvoluntarios.com.br; focinhos.com.br; tribunaanimal.com; caomania.com.br; pets.cosmo.com.br; acupunturaveterinaria.com.br; abravet.com.br;
Procedimentos e métodos de eutanásia em animais
Resolução nº 714, 20 de junho de 2002 - CFMV


Dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais, e dá outras providências.







O Conselho Federal de Medicina Veterinária - CFMV, no uso da atribuição que lhe são conferidas pelo art. 16, alínea "f" da Lei nº 5.517/68, de 23 de outubro de 1968 e,


Considerando a crescente preocupação da sociedade quanto à eutanásia dos animais e a necessidade de uniformização de metodologias junto à classe médico-veterinária;


Considerando a diversidade de espécies envolvidas e a multiplicidade de métodos aplicados;


Considerando que a eutanásia é um procedimento amplamente utilizado e necessário, e que sua aplicação pressupõe a observância de parâmetros éticos específicos,


RESOLVE:


Art. 1º Instituir normas reguladoras de procedimentos relativos à eutanásia em animais.




CAPÍTULO I DAS NORMAS GERAIS


Art. 2º A eutanásia deve ser indicada quando o bem-estar do animal estiver ameaçado, sendo um meio de eliminar a dor, o distresse ou o sofrimento dos animais, os quais não podem ser aliviados por meio de analgésicos, de sedativos ou de outros tratamentos, ou, ainda, quando o animal constituir ameaça à saúde pública ou animal, ou for objeto de ensino ou pesquisa.


Parágrafo único. É obrigatória a participação do Médico Veterinário como responsável pela eutanásia em todas as pesquisas que envolvam animais.


Art. 3º O Médico Veterinário responsável pela eutanásia deverá:


I - possuir prontuário com o(s) métodos(s) e técnica(s) empregados, mantendo estas informações disponíveis para utilização dos CRMVs;


II - atentar para os riscos inerentes ao método escolhido para a eutanásia;


III - pressupor a necessidade de um rodízio profissional, quando houver rotina de procedimentos de eutanásia, com a finalidade de evitar o desgaste emocional decorrente destes procedimentos;


IV - permitir que o proprietário do animal assista à eutanásia, sempre que este assim o desejar.


Art. 4º Os animais deverão ser submetidos à eutanásia em ambiente tranquilo e adequado, longe de outros animais e do alojamento dos mesmos.


Art. 5º A eutanásia deverá ser realizada segundo legislação municipal, estadual e federal, no que se refere à compra e armazenamento de drogas, saúde ocupacional e a eliminação de cadáveres e carcaças.


Art. 6º Quando forem utilizadas substâncias químicas que deixem ou possam deixar resíduos é terminantemente proibida a utilização da carcaça para alimentação.


Art. 7º Os procedimentos de eutanásia, se mal empregados, estão sujeitos à legislação federal de crimes ambientais.




CAPÍTULO II DOS PROCEDIMENTOS


Art. 8º A escolha do método dependerá da espécie animal envolvida, dos meios disponíveis para a contenção dos animais, da habilidade técnica do executor, do número de animais e, no caso de experimentação animal, do protocolo de estudo, devendo ainda o método ser:


I - compatível com os fins desejados;


II - seguro para quem o executa, causando o mínimo de estresse no operador, no observador e no animal;


III - realizado com o maior grau de confiabilidade possível, comprovando-se sempre a morte do animal, com a declaração do óbito pelo Médico Veterinário.


Art. 9º Em situações onde se fizer necessária a indicação da eutanásia de um número significativo de animais, como por exemplo, rebanhos, Centros de Controle de Zoonoses, seja por questões de saúde pública ou por questões adversas aqui não contempladas, a prática da eutanásia deverá adaptar-se a esta condição, seguindo sempre os métodos indicados para a espécie em questão.


Art. 10. Os procedimentos de eutanásia são de exclusiva responsabilidade do médico veterinário.


Art. 11. Nas situações em que o objeto da eutanásia for o ovo embrionado, a morte do embrião deverá ser comprovada antes da manipulação ou eliminação do mesmo.




CAPÍTULO III DOS MÉTODOS RECOMENDADOS


Art. 12. Os agentes e métodos de eutanásia, recomendados e aceitos sob restrição, seguem as recomendações propostas e atualizadas de diversas linhas de trabalho consultadas-, entre elas a Associação Americana de Medicina Veterinária (AVMA), estando adequados à realidade nacional, e encontram-se listados, por espécie, no anexo I desta Resolução.


§ 1º Métodos recomendados são aqueles que produzem consistentemente uma morte humanitária, quando usados como métodos únicos de eutanásia.


§ 2º Métodos aceitos sob restrição são aqueles que, por sua natureza técnica ou por possuírem um maior potencial de erro por parte do executor ou por apresentarem problemas de segurança, podem não produzir consistentemente uma morte humanitária, ou ainda por se constituírem em métodos não bem documentados na literatura científica. Tais métodos devem ser empregados somente diante da total impossibilidade do uso dos métodos recomendados constantes do anexo I desta Resolução.


Art. 13. Outros métodos de eutanásia não contemplados no ANEXO I poderão ser permitidos, desde que realizados sob autorização do CRMV ou CFMV.


Art. 14. São considerados métodos inaceitáveis:


I - Embolia Gasosa;


II - Traumatismo Craniano;


III - Incineração in vivo;


IV - Hidrato de Cloral (para pequenos animais);


V - Clorofórmio;


VI - Gás Cianídrico e Cianuretos;


VII - Descompressão;


VIII - Afogamento;


IX - Exsanguinação (sem sedação prévia);


X - Imersão em Formol;


XI - Bloqueadores Neuromusculares (uso isolado de nicotina, sulfato de magnésio, cloreto de potássio e todos os curarizantes);


XII - Estricnina.


Parágrafo único. A utilização dos métodos deste artigo constitui-se em infração ética.


Art. 15. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. --------------------------------------------------------------------------------



Anexo I



Espécie: Anfíbios


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis (em algumas espécies), Dióxido de Carbono (CO²), Monóxido de Carbono (CO), metano sulfonato de tricaína (TMS, MS222), hidrocloreto de benzocaína, dupla secção da medula espinhal


Aceitos: Pistola de ar comprimido, pistola, atordoamento e decapitação, decapitação e secção da medula espinhal




Espécie: Animais selvagens de vida livre


Recomendados: Barbitúricos intra-venosos (IV) ou intra-peritonais (IP), anestésicos inaláveis, cloreto de potássio com anestesia geral prévia.


Aceitos: CO², CO, Nitrogênio (N²), argônio, pistola de ar comprimido, pistola, armadilhas (testadas cientificamente)



Espécie: Animais de zoológicos


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio com anestesia geral prévia


Aceitos: N², argônio, pistola de ar comprimido, pistola



Espécie: Aves


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, pistola


Aceitos: N², argônio, deslocamento cervical, decapitação



Espécie: Cães


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio com anestesia geral prévia


Aceitos: N², argônio, pistola de ar comprimido, eletrocussão com sedação prévia



Espécie: Cavalos


Recomendados: Barbitúricos, cloreto de potássio com anestesia geral prévia, pistola de ar comprimido


Aceitos: Hidrato cloral, (IV, após sedação), pistola, eletrocussão com sedação prévia



Espécie: Coelhos


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio com anestesia geral prévia


Aceitos: N², argônio, deslocamento cervical (<1kg), decapitação, pistola de ar comprimido




Espécie: Gatos


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio com anestesia geral prévia


Aceitos: N², argônio



Espécie: Mamíferos marinhos Recomendados: Barbitúricos, hidrocloreto de etorfina


Aceitos: Pistola (cetáceos <4m de comprimento)




Espécie: Peixes


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², tricaína metano sulfonato (TMS, MS222), hidrocloreto de benzocaína, 2-fenoxietanol


Aceitos: Decapitação e secção da medula espinhal, atordoamento e decapitação ou secção da medula espinhal Espécie: Primatas não-humanos Recomendados: Barbitúricos Aceitos: Anestésicos inaláveis, CO², CO, N², argônio



Espécie: Répteis


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis (em algumas espécies), CO² (em algumas espécies)


Aceitos: Pistola de ar comprimido, pistola, decapitação e secção da medula espinhal, atordoamento e decapitação



Espécie: Roedores e outros pequenos mamíferos


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio com anestesia geral prévia


Aceitos: Metoxiflurano, N², argônio, deslocamento cervical (ratos <200g), decapitação



Espécie: Ruminantes


Recomendados: Barbitúricos, cloreto de potássio com anestesia geral prévia, pistola de ar comprimido


Aceitos: Hidrato cloral (IV, após sedação), pistola, eletrocussão, com sedação prévia



Espécie: Suínos


Recomendados: Barbitúricos, CO², cloreto de potássio com anestesia geral prévia, pistola de ar comprimido


Aceitos: Anestésicos inaláveis, CO, hidrato cloral, (IV após sedação), pistola, eletrocussão com sedação prévia, pancada na cabeça (< 3 semanas de idade)



Espécie: Visões, raposas, e outros mamíferos criados para extração do pêlo


Recomendados: Barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO² (visões requerem altas concentrações para eutanásia sem agentes suplementares), CO, cloreto de potássio, com anestesia geral prévia


Aceitos: N², argônio, eletrocussão, com sedação prévia seguida de deslocamento cervical